Os médicos historiadores Lyons e Petrucelli [1997] descrevem as culturas pré-colombianas como sistemas de intrincadas misturas de religião, magia e empirismo semelhantes ao das sociedades arcaicas. A medicina Inca conhecida por suas sobrevivências e relatos de cronistas, reuniu pelo menos 1.400 espécies de vegetais (Pamo-Reyna), técnicas cirúrgicas e especializações médicas praticadas por os hampi-camayok e oquetlupcuc ou sirac (donos de medicamentos e cirurgiões) Thorwald, [1990]
O império socialista dos
incas que se constituiu entre os finais do século XII e meados do século XV [Baudin]
reúne uma série de conquista tecnológicas e de organização social que ainda não
foram bem compreendidas nem avaliadas, graças a violência do processos colonial, nos
limitamos portanto à análise de algumas de suas contribuições à medicina.
Os incas fizeram muitas
descobertas farmacológicas. Usavam a "quina" (Cinchona L.) no
tratamento da febre, posteriormente utilizada, com grande sucesso, contra a
malária importada com a colonização [Franca et al. 2008]. As folhas da coca
eram usadas de modo geral como analgésicos, e para diminuir a fome, embora os
mensageiros Chasqui as usassem para obter energia extra. Outra terapia comum e
eficiente era o banho de ferimentos com uma cocção de casca de pimenteiras
ainda morna.
Entre as plantas utilizadas
na medicina dos povos deste império está a ayahuasca,
talvez sua mais importante contribuição, descrita na farmacopeia Callawaya como
ayawasco (ayaasco, caapi, yague) referindo-se à Banisteria caapi [Poblete].
Atualmente se sabe que o
nome ayahuasca pode designar tanto a liana Banisteriopsis spp. quanto a bebida
produzida a partir da combinação da videira Banisteriopsis caapi com várias
plantas, em particular a Psychotria viridis e a Diplopterys cabrerana, além um
conjunto de outras plantas adicionáveis (admixture plants) em rituais ou
condições "médicas" especiais.
Os métodos para preparo,
portanto, diferem muito em relação à ocasião ou a cultura local. Segundo
Strassman, [2010], e outros autores [Beyer ] [Lawler] a ayahuasca é uma das
várias infusões ou decocções psicoativas preparada a partir de Banisteriopsis
spp. As bebidas resultantes são farmacologicamente complexas e utilizadas com
propósitos xamânicos, etnomédicos e religiosos. Etnobiólogos occidentais já
registraram uma variedade de 200 a 300 plantas diferentes utilizadas no seu
preparo. É uma questão aberta se a hoasca deve ser considerada como uma infusão
medicinal xamânica, ou que deve ser considerada como uma medicina tradicional
ao lado, por exemplo, à medicina ayurvédica, chinesa ou tibetana.
Entre as traduções para o
vocábulo quechua Ayahuasca, estão "cipó do homem morto" (aya
significando "espírito, morto ou ancestral" e huasca significa
"vinha ou corda"), "liana das almas", "cipó dos
espíritos", "cipó da pequena morte", "vinho da alma".
Essa bebida é também
conhecida por dezenas de outros nomes como por exemplo: caapi, yagé (Tukano,
Brasana); kapi (Guahibo); kahi (Yekuanas); kahi ide (Makunas); kamarampi
(Ashaninka); nixi honi xuma (Amahuaca); mihi (Cubeo); nixi pae (Kaxinaua);
nepê/nepi (Colorado); mahí (Cubeo); Ondi (Sharanawa); pildé (Emberá), natema
(Jivaro), pindé/pinde (Kaiapa); dápa/dapa (Noanamá); uko (Zaparos) [Bolsanelo]
[Luz] Os nomes além do significado literal referem-se a elementos de
significação cultural, a exemplo de: “cipó da embriaguez”, “vômito”, “planta
mestre", "planta professora", entre outros.
A ayahuasca (com este nome)
era utilizada pelos incas (povos que adotaram o idioma quéchua) ou, melhor,
pelo complexo histórico cultural denominado Inca (Império Inca). Segundo Darcy Ribeiro,
[1977] apesar das diferenciações linguísticas e das variantes culturais e
nacionais, o bloco inteiro deve ser encarado como uma só macro-etnia: a
neo-incaica. Numa avaliação que fez em 1960, publicada no livro "As
Américas e a civilização", encontrou-se uma população de 15,5 milhões de
habitantes, na área montanhosa de 3 000 quilômetros de extensão que vai do
Norte do Chile ao Sul da Colômbia, cobrindo os atuais territórios da Bolívia,
Peru e Equador. Destes, 7,5 milhões são considerados indígenas, 3 milhões,
brancos por auto definição e 5 milhões de mestiços.
Os primeiros relatos do uso
indígena de ayahuasca, no Ocidente, são dos missionários jesuítas Pablo Maroni
em 1737 e Franz Xaver Veigl em 1768, que descreveram um cipó (liana) conhecido
como ayahuasca, "usado para adivinhação, mistificação e
enfeitiçamento", enquanto estiveram no Rio Napo.[De Mori, 2011]
Na América do Sul ayahuasca
é utilizada tradicionalmente em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e
Brasil e ainda por pelo menos 72 diferentes tribos indígenas da Amazônia. [Luna]
[Sachahambi], o que confirma sua importância. Há estimativas do início da sua
utilização e dispersão entre as tribos ameríndias entre 1500 e 2000 a.C.,
estando, entre os principais estudos dessa datação, os realizados pelo
etnógrafo equatoriano Plutarco Naranjo, que sumariou a pouca informação
disponível sobre a pré-história da ayahuasca a partir de evidências
arqueológicas abundantes em vasos de cerâmica, estatuetas antropomórficas e
outros artefatos. [Naranjo, 1986] Outras estimativas datam o uso por populações
indígenas de bebidas com estas plantas há aproximadamente cinco mil anos, [Furst;
Narby] [Llamazares; Martínez] oito mil anos [Dobkin de Rios] ou pelo menos
3.500 anos. [McKenna ] [ Anwar]
Outra prática médica da
civilização inca que ainda intrigam os pesquisadores está o procedimento
cirúrgico conhecido como trepanação realizado com mais freqüência em homens
adultos, (provavelmente para tratar os ferimentos sofridos durante o combate).
Ainda hoje, procedimento similar é realizado para aliviar a pressão causada
pelo acúmulo de fluidos após trauma craniano grave. Há evidências que as
técnicas cirúrgicas foram padronizadas e aperfeiçoadas ao longo do tempo, face
ao fato de que os crânios mais antigos não mostrarem nenhum sinal da
consolidação óssea, após a operação, sugerindo que o procedimento foi
provavelmente fatal.
Ao contrário dos encontrados
mais recentemente, cujas taxas de sobrevivência se aproximaram de 90%, com
níveis de infecção muito baixos, segundo os pesquisadores. [Norris] [Parr]
Poderíamos ainda listar
diversas plantas com propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, psicoativas,
além de rituais com resultados promissores na psiquiatria (psicoclínica) a
exemplo dos identificados pelo Centro Takiwasi. Tudo indica portanto que a neurociência tem
origem diversa à descoberta ocidental hipocrática das funções do cérebro.
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https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Imp%C3%A9rio_Inca&oldid=47434386#cite_ref-19
e excertos, como contribuições ao verbete Ayahuasca CostaPPPR https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ayahuasca&action=history
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Inca Skull
A trepanation was performed on this Inca skull and a gold
plate was used as an implant that shows a clear bone reconstruction and
osseointegration, that is, the patient survived.
With more than 500 years old, it is located in the Gold
Museum of Peru and Arms of the World, Lima.
facebook: Arkeoloji ve sanat
https://www.facebook.com/arkeovesanat/photos/a.237131083627726/784079698932859/
https://br.123rf.com/photo_140787106_authentic-inca-mummies-with-indigenous-ornaments-skeleton-skulls-and-human-remains-found-archaeologi.html
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