segunda-feira, 18 de junho de 2012

Povos indígenas, as matrizes originárias de uso da ayahuasca na América

Identificar e conhecer os grupos étnicos amazônicos e da região andina que utilizam a ayahuasca não é uma tarefa simples, há variantes lingüísticas e étnicas em uma mesma região ou uma mesma etnia, às vezes, dispersa entre várias regiões e países do entorno da Amazônia. Além do que com o nome de ayahuasca podem ser denominadas diferentes composições de bebida e modos de preparar como a própria literatura já assinala.

Apesar de consagrado o uso da Banisteriopsis caapi em associação à Psychotria viridis ainda persiste o entendimento de que basta a presença da referida Malpighiaceae para que o composto seja designado como Ayahuasca.

Esse trabalho relaciona-se a proposição publicada na Wikipédia pelo presenta autor: "Lista dos povos indígenas que utilizam ayahuasca" explora uma relação ainda provisória construída a partir da proposição do Handbook of South American Indians editado por Julian H. Steward [1] traduzido seletivamente e publicado no Brasil por Ribeiro [2]. O capítulo sobre estimulantes e narcóticos escrito por John M. Cooper apresentado neste livro refere-se a listas elaboradas por Spruce, 1908; Reiburg 1921 [3]; Tessmann, 1930 [4] e Pardal, 1937.

Utilizando também as referências de Taussig, 1993 [5] e Bolsanello, 1995 [6] e mais recentemente a dissertação de mestrado de Pedro Luz [7] que realizou um num estudo comparativo dos complexos ritual e simbólico associados ao prepero e consumo do Banisteriopsis caapi e de suas plantas aditivas em tribos de língua Pano, Aruak, Tukano e Maku.

A diferença desse hipertexto para aquele é que na presente construção a proposição é essencialmente uma seleção e análise crítica das centenas de pequenos vídeos publicados aqui world wide web (www) com fins educativos e de suporte à trabalhos científicos sobre o uso etnomédico e matrizes originárias da utilização ritual da ayahuasca na América do Sul. Para se ter uma idéia da complexidade e extensão da tarefa somente no YouTube em 11 de maio de 2012 se obteve 17100 resultados para o termo Ayahuasca e respectivamente 233 e 110 para as expressões "Ayahuasca indians" e "Ayahuasca, índios".

As etnias serão identificadas a partir da família linguística de que fazem parte, observando-se então se a utilização da ayahuasca é uma aquisição recente, um traço cultural em extinção e/ou ausente. Até agora as famílias linguísticas identificadas que incluem etnias, descritas na literatura, com sistemas etnomédicos associados ao consumo da ayahuasca foram: Panos (Macro-Pano-Tacanan); Aruák (Arawak); Quechua (Quechumaran) – Aimara; Tucanoan (famílias Tukano); Jivaro (Ashuar) e as línguas isoladas: Arawá; Katukina; Maku; Uitoto (Rio Caquetá – Alto Amazonas) / Uitoto entre outras.

O mapa abaixo é uma sobreposição das áreas dos principais grupos linguísticos à identificada como de consumo da ayahuasca por John M. Cooper, 1949 em seu texto "Estimulantes e narcóticos" publicando no referido Handbook of South American Indians. [1], [2]

Referências

1 Steward Julian H. (Ed.) Handbook of South American Indians. Vol 5 The comparative ethnology of South American Indians. Bureau of American Ethnology. Bulletin 143, Washington, DC, 1949
2 Ribeiro, Darcy (Editor) et alii Suma etnológica brasileira. Edição atualizada do Handbook of South American Indians. Petrópolis, RJ, Vozes – FINEP, 1986
3 Reinburg, P. Contribution a l'étude des boissons toxiques des indiens du nordouest de l'Amazonie, l'ayahuasca -le yaje - le huanto. Journal de la Societe des Americanistes de Paris (n.s.) 13:25-54; 197-216. Paris. 1921
4 Tessmann, Giinter Die Indianer Nordost-Perus. Hamburg: Friederichsen, de Gruyter and Co. 1930
5 Taussig, Michael. Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem, um estudo sobre o terror e a cura. RJ, Paz e Terra, 1993
6 Bolsanello, Débora Pereira Busca do Graal brasileiro, a doutrina do Santo Daime. Ed Bertrand do Brasil, 1995
7 Luz, Pedro F.L. Estudo comparativo dos complexos ritual e simbólico associados ao uso da Banisteriopsis caapi e espécies congêneres em tribos de língua Pano, Arawak, Tukano e Maku do noroeste amazônico. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. NEIPJan. 2011



Quechuas, Incas e Ayahuasca

O quechua (quíchua, qhichwa), também chamado de quéchua é uma importante família de línguas originárias da América do Sul, juntamente com o Aimara, com quem está intrinsecamente relacionado reúne, o maior número de falantes de todas as línguas sobreviventes do Novo Mundo, cerca de dez milhões de pessoas de diversos grupos étnicos da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru ao longo dos Andes.

Segundo Lewis pode ser dividida em dois grandes grupos, com 46 variantes dialetais. O primeiro (Quíchua I ou Waywash) correspondendo ao falar das regiões mais altas do Peru reunindo 17 dialetos, sendo que o segundo (Quíchua II ou Wanp'una (viajante)), apresenta três ramos: (IIA) Yunkay falado por grupos isolados oeste do Peru; (II-B) Runasimi, falado no Equador, Colômbia, e regiões de planície na Amazônia peruana e equatoriana; (II-C) Quechua do Sul, falado nas terras altas do sul do Peru, na Bolívia, na Argentina e Chile. (Campbell)



Os vários dialetos são mais ou menos inteligíveis entre si e algumas de suas variantes correspondem as línguas oficiais de Bolívia, Peru e Equador. O Quechua do Sul, (II-C) apresenta o maior número de falantes e tem significativo legado cultural e literário. (Campbell).

Para maioria dos historiadores o quechua era o idioma oficial falado no Império Inca (associa-se o aimará ao apogeu da civilização de Tihuanaco) , ou seja não considerando a sucessão de culturas e formações imperiais (evidenciadas pelos achados arqueológicos de Caral Chavin, Moche, Nazca, Tihuanaco, Huari) se extendeu por um pouco mais de três centenas de anos, do sec XIII até 1532, a chegada dos espanhóis.

Segundo Heggarty, parece bastante claro que tanto o quechua e o aimará foram línguas faladas em algumas pequenas áreas pequenas, que através do processo histórico cultural da região se expandiram enormemente num processo análogo a língua da região em torno de Roma (Lácio), que foi utilizada pelo Império Romano (especialmente a parte ocidental), e sobreviveu transformado em modernas línguas românicas de Portugal para a Bélgica à Roménia.

Alguns autores observam que por frequencia de vocábulos e sons comuns o aimara e quechua poderiam ser incluídos numa mesma família (Quechumara) contudo suas estruturas gramaticais os diferenciam.

Ayahuasca

A maior evidência da utilização da ayahuasca por etnias de língua quechua, é a origem quechua da palavra “ayhuasca”, traduzida diversamente por liana (cipó, corda) das almas (do homem morto) além de algumas outras palavras, inclusive “Chakruna” que não só representa uma palavra como também um modo específico de preparo da bebida ayahuasca, que é a decocção conjunta da Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis (Highpine).

Outra evidência são os grupos quechuas que ainda utilizam a ayahuasca entre os quais os Ingas (Ingano) - Vale Sibundoy /Colômbia; os Kofan (Cofan) do Rio Putumaio – San Miguel / Equador e os Callawaya - (Quíchua), da Bolívia – Peru ao que parece uma etnia com elevado número de raizeiros (xamãs – ervanários ou comerciantes de plantas medicinais) e funções específicas no Império Inca, além das dezenas de cholos ou mestiços que não mais integram uma etnia mas conhecem algo do quechua e são curandeiros que utilizam ayahuasca.

A evidenciação da utilização da ayahuasca no império Inca e o conhecimento de suas formas de uso, possuem uma dificuldade maior de reconstrução. Considere-se a reconhecida violência das guerra de invasão e processo de ocupação. Podem ser tomados como exemplo a proibição do ritual coletivo Inti Raymi (em quéchua, "Festa do Sol") em 1572 pelo Vice-Rei Francisco de Toledo, por ser considerada uma cerimônia pagã e contrária à fé católica (Wikipédia) ou mesmo duma planta de ampla utilização por aquelas populações como a coca (do quíchua kuka - Erythroxylum coca) foi considerada pelo Concílio de Lima, 1567, como “inútil e perniciosa” (Delpirou; Labrousse)

Por outro lado, além das diversas referências à bebida sagrada dos Incas, inclusive na “Festa do Sol” com citação do próprio Inca Garcilaso de la Vega (1539 - 1616) (Ribeiro,2005; Ribas, 2008) parece não haver citações explícitas à ayahuasca nos documentos históricos mais conhecidos, Beyer descreve esse período como um “longo silêncio” onde não se evidenciou a presença da ayahuasca bebida nas terras altas nem mesmos em acusações de feitiçaria conhecidas, apesar de referências arqueológicas à outras substâncias enteógenas inalantes.

Lidamos com fragmentos, considero que somente após reunião de maiores evidências (etnografias, análises) que permitam compreensão da extensão e forma de uso de tais plantas a partir de mapeamento de uso, considerando as possibilidades de uso tradicional, adquirido recentemente ou potencialmente extinto no panorama das técnicas etnomédicas e demandas de saúde (ou mítico religiosa) de tais populações é que poderemos ter uma idéia mais aproximada da dimensão desse bem cultural.

Bibliografia

Beyer, Steve On the Origins of Ayahuasca. in: Singing to the Plants (site) http://www.singingtotheplants.com Wednesday, Apr 25th, 2012

Coe, Michael; Snow, Dean; Benson, Elizabeth. Antigas Américas, mosaico de culturas (2V) Es, E. del Prado, 1996

Campbell, Lyle. American Indian Languages: The Historical Linguistics of Native America, Oxford University Press, 1997, p. 189. In Wikipédia (Quechua)

Delpirou, Alain; Labrousse, Alain. Coca, Coke, produtores, consumidores, traficantes e governantes. SP, Brasiliense, 1988

Heggarty, Paul. Quéchua web site. http://www.quechua.org.uk/ (jun 2012)

Highpine Gayle. Unraveling the Mystery of the Origin of Ayahuasca. NEIP - Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos. (Jun. 2012) http://www.neip.info/index.php/content/view/2469.html

Lewis, Paul M. (org.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, edição XVI. Dallas, Texas: SIL Internacional. Versão on-line: http://www.ethnologue.com/. Maio 2012

Longhena, Maria; Alva, Walter. Peru antigo (Grandes Civilizações do passado). Barcelona, Folio, 2006

Mercier H,,Juan Marcos; Fernández, María C.Nosotros los napu-runas : mitos e historia = Napu runapa rimay. Peru. Ministerio de Educación. Educación Bilingüe - Alto Napo.

Poblete, Enrique Oblitas. Plantas medicinales de Bolívia, farmacopea Callawaya. Cochabamba, La Paz, 1969

Ribeiro,Fernando. Os Incas, as plantas de poder e um tribunal espanhol. RJ, Mauad, 2005

Ribas, Ka, W. A ciência sagrada dos Incas. SP, Madras, 2008

Wikipédia, verbetes Quíchua, Incas, Inti Raymi (acesso jun. 2012)



O mapa acima é uma sobreposição das áreas dos principais grupos linguísticos à identificada como de consumo da ayahuasca por John M. Cooper, 1949 em seu texto "Estimulantes e narcóticos" publicando no Handbook of South American Indians. [1], [2]

1 Steward Julian H. (Ed.) Handbook of South American Indians. Vol 5 The comparative ethnology of South American Indians. Bureau of American Ethnology. Bulletin 143, Washington, DC, 1949
2 Ribeiro, Darcy (Editor) et alii Suma etnológica brasileira. Edição atualizada do Handbook of South American Indians. Petrópolis, RJ, Vozes – FINEP, 1986


Alguns vídeos selecionados:









Napu runas (Amazonian Kichwas) Shaman



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Aruak (aruáques) / Arawá


As línguas aruaques (também aruak ou arawak) formam uma família de línguas ameríndias da América do Sul e do Mar do Caribe.

As línguas aruaques são faladas em grande parte do território da América Latina, desde as montanhas centrais da Cordilheira dos Andes no Peru e na Bolívia, atravessando a Planície Amazônica, ao sul em direção ao Brasil Central e Paraguai e ao norte, em países da costa norte da América do Sul, como o Suriname, a Guiana e a Venezuela.

Para Rodrigues [1] essa língua também conhecida como Lokono, foi falada em algumas ilhas antilhanas como Trindad. Quando os europeus iniciaram sua colonização do Caribe, os Aruák dividiam e disputavam o mesmo espaço com os Karib. Assim como o Karib nome Aruák veio a ser usado para designar o conjunto de línguas encontradas no interior do continente e aparentadas à língua Aruák. Ainda segundo esse autor, esse conjunto de línguas foi também chamado de Maipure ou Nu-Aruák e corresponde ao que Martius (1794 — 1868) há mais de um século chamou de Guck ou Coco.

Segundo Urban na literatura recente o termo Maipure é utilizado para caracterizar um conjunto semelhante ao Jê (não ao Macro-Jé) ou a família Tupi-Guarani (não ao tronco Tupi). Para Urban as línguas Maipure são relativamente próximas, podendo-se estimar uma profundidade cronológica de uns 3 mil anos, ou seja ainda possuem elevados percentuais de cognatos entre os vocábulos nucleares.

A classificação proposta por Payne [3] divide esse grupo de línguas em cinco subdivisões: 1 setentrional (Ex: Achagua); 2 oriental (Ex: Palikur); 3 central (Ex: Waurá);4 meridional (Ex: Terena) e 5 ocidental (Ex: Amuesha). [ver mapa]

A classificação de Lewis [4] (Ethnologue) é a que se segue:

Arawakan (59)

->Não Classificadas (5)
Cumeral (Colombia) ; Omejes (Colombia) ; Ponares (Colombia); Tomedes (Colombia) ; Xiriâna (Brasil)

->Maipure (Maipuran) (54)

Maipure Central (6)

Enawené-Nawé (Brasil) ; Mehináku (Brasil) ; Parecís (Brasil) ; Saraveca (Bolivia) ; Waurá (Brasil) ; Yawalapití (Brasil) ;

Maipure Oriental (Eastern) (1)
Palikúr [plu] (Brasil)

Maipure Setentrional (Northern) (22)

- Caribbean (5)
Arawak (Suriname) ; Garifuna (Honduras) ; Paraujano (Venezuela) ; Taino (Bahamas); Wayuu (Colombia) ;
- Inland (13)
Achagua (Colombia); Baniva (Venezuela) ; Baniwa (Brasil) ; Baré (Venezuela) ; Cabiyarí (Colombia) ; Curripaco (Colombia) ; Guarequena (Venezuela) ; Mandahuaca (Venezuela); Piapoco (Colombia); Resígaro (Peru) ; Tariana (Brasil) ; Yavitero (Venezuela) ; Yucuna (Colômbia)
- Não classificada (1) Yabaâna (Brasil)
- Wapishanan (3)
Atorada (Guyana) ; Mapidian (Brasil) ; Wapishana (Guyana)

Maipure Sul (Southern) (22)
- Bolivia-Parana (5)
Baure (Bolivia) ; Guana (Brasil) ; Ignaciano (Bolivia) ; Terêna (Brasil) ; Trinitario (Bolivia)
- Pre-Andine (11)
Ajyíninka Apurucayali (Peru) ; Asháninka (Peru) ; Ashéninka Pajonal (Peru) ; Ashéninka Perené (Peru) ; Ashéninka, Pichis (Peru) ; Ashéninka, South Ucayali (Peru) ; Ashéninka, Ucayali-Yurúa (Peru) ; Caquinte (Peru) ; Machiguenga (Peru) ; Nanti (Peru) ; Nomatsiguenga (Peru)
- Purus (5) Apurinã (Brasil) ; Iñapari (Peru) ; Machinere (Brasil) ; Mashco Piro (Peru) ; Yine (Peru) ;
- Não classificadas (1)
Irántxe (Brasil) ; Western

Maipure ocidental (Western)(2) Chamicuro (Peru) ; Yanesha (Peru) ; Mawayana (Guyana)

Não existe consenso na literatura quanto a origem geográfica desse tronco (Maipure), entre as hipóteses estão uma distribuição ao longo de trecho principal do Amazonas, ou a partir do Vaupés centro ou norte do Peru, sendo concordantes quanto a sua distribuição que em relação aos Tupi, Jê e Karib no Brasil, os Maipure, apresentam uma distribuição a partir do noroeste (ocidental). [3]

Considerando a possibilidade de reconstrução histórica a partir das línguas nativas o referido autor Urban (1992) conjectura que o curso principal do Amazonas não foi a principal rota de dispersão Arawák. Ao contrário parece que os Maipure tenham migrado pela periferia da bacia amazônica, tanto pelo norte como pelo sul a partir da área peruana estabelecendo-se apenas mais tarde em regiões de terras baixas amazônicas há mais de 3 mil anos ou mais.

Ainda segundo Urban observe-se que o termo Arawak refer-se a um grupo geneticamente mais abrangente, sobre, com menos certezas das relações de proximidade entre idiomas integrantes. As outras famílias são as integrantes no grupo Aruan da região do sudoesta amazônico (Kulina, Paumari, Yamandi e Deni). Rodrigues observe que esse último grupo Arawá (Arauan segundo Ethnologue) além de estreitamente aparentadas entre si ocupam uma área geográfica bem definida entre os rios Purús e Juruá

Segundo Lewis [4] (Ethnologue) inclui-se

Arauan (Arawá) (5)
Dení (Brasil)
Jamamadí (Brasil)
Kulina (Brasil)
Paumarí (Brasil)
Suruahá (Brasil)

Entre os povos indígenas desse grupo linguístico que utilizam a ayahuasca destacam-se os Baníuas (baniba, baniva) um grupo indígena que habita o Noroeste do estado brasileiro do Amazonas e regiões próximas na Colômbia e Venezuela; Os campas (kampa) ou Ashaninka; Os guahibo (sikuani, guajibo, jivi, jiwi) da região do Orinoco, Venezuela; os Machiguenga (Matsigenka, Matsigenga) do Peru, Brasil e Bolívia; os Mashco-Piro (Piro, Mascho Piro) do Peru e Tarianas do Noroeste do estado brasileiro do Amazonas, e Colômbia.

Referências

1 Rodrigues, Aryon Dall'Igna. Línguas brasileiras. Para o conhecimento das línguas indígenas. SP, Loyola, 1986

2 Urban, Greg. A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas. in: Cunha, Manuela Carneiro (org.) História dos índios no Brasil. SP, Companhia das Letras - Secretaria Municipal de Cultura/ FAPESP, 1992

3 Payne, David L. A classification of Maipuran (Arawakian) languages based on shared lexical retentions. in Derby-shire, D.C.; Pullun, G.K. (orgs) Handbook of Amazonian languages, 1991. pp. 355-499

4 Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com/.
-http://www.ethnologue.com/show_family.asp?subid=421-16
Mapa: Wikipédia Línguas aruaques http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_aruaques

Alguns vídeos de povos do grupo Aruak: Ashaninka (Campa) (647 vídeos); Machigenguas (39 vídeos); Piro ; Tariana (Tarianos); Kulinas (Arawá)































quarta-feira, 9 de maio de 2012

Panos (panoan)

[Wikipédia]
A família Pano (Panoan) é uma família linguística cujas línguas são faladas por povos indígenas no Brasil, no Peru e na Bolívia segundo Lewis (2009) com 28 grupos. A etnia que da nome ao grupo linguístico está extinta e segundo Erikson (1999) essa família etnolinguística, que conta hoje com cerca de 30 mil falantes, conseguiu preservar tanto sua língua como a maior parte de suas tradições apesar dos vários séculos de contato e é notável a sua grande homogeneidade territorial e linguística.

Luz (2002) nos apresenta referências sobre a utilização da ayahuasca por três etnias desse grupo linguístico, a saber: (1) os Kaxinawá que denominam a bebida feita do Banisteriopsis caapi por nixi pae (cipó da embriaguez), e também se referem a ela, o cipó e a bebida, como dunuan isun e huni, termos respectivamente traduzíveis por "urina de sucuri" e "gente". (2) os Yaminawá que denominam a bebida que tem como base a B. caapi como shori, segundo suas crenças habitado por uma entidade, o shori iwo ("mestre do shori") e os (3) Sharanawa que tanto utilizam B. caapi (ondi), como um cacto (chai) da família Opuntia sp. utilizado como aditivo e às vezes sozinho.   

Ainda segundo a referências de Luz (o.c.) os kaxinawá sob efeito do nixi pae, um estado de consciência (damí) que possui relação direta com os sonhos,  é possível perceber a realidade do yuxin (espírito) que habita as plantas e animais que como nós são huni kuin (gente nossa). É também através das visões do nixi pae que o indivíduo toma consciência da existência post mortem, além do corpo conhecendo seu bedu yuxin (o espírito que vê) no caminho de habitar a "aldeia celeste".  Os yaminawá utilizam o shori para através do domínio do weroyoshi (espírito / essência vital) para "sair" do corpo (yora) de melhor forma como acontece nos sonhos. Inclusive podendo curar e tendo acesso, com o uso do shori à "terra dos mortos" (bai iri) onde se "vê tudo" e existe em eterno êxtase (efeito do shori). Os sharanawa também associam as visões do ondi aos sonhos (nos rituais de cura são relevantes a análise do sonho dos "pacientes")

Outros grupos linguísticos Pano precisam ainda ser pesquisados inclusive quanto as origens e relações etno-históricas da formação PanoTacanan (Tacapano) com especial atenção as relações deste como o tronco Macro-Quechua se quisermos  ter uma melhor compreensão de origens do uso da ayahuasca que no idioma quechua, como se sabe, é o "cipó do homem morto" ou "liana das almas".

Divisão dos grupos linguísticos pano segundo Lewis:

Oriental(1)
- Kaxarari ( Brasil )

Norte-Central (6)
- Capanahua ( Peru )
- Isconahua ( Peru )
- Marubo ( Brasil )
- Remo ( Peru )
- Sensi ( Peru )
- Shipibo-Conibo ( Peru )

Norte (5)
- Korubo ( Brasil )
- Matis ( Brasil )
- Matsés ( Peru )
- Pisabo [ porco ] ( Peru )

Centro-Sul (9)
- Amahuaca (1)
     Amahuaca ( Peru )
- Não classificado (1)
     Nukuini ( Brasil )
- Yaminahua-Sharanahua (6)
     Poyanáwa ( Brasil )
     Sharanahua ( Peru )
     Tuxináwa ( Brasil )
     Xipináwa ( Brasil )
     Yaminahua ( Peru )
     Yawanawa ( Brasil )
- Yora (1)
     Yora ( Peru )

Sudeste (2)
- Kashinawa ( Peru; Acre - Br )
- Katukina, Pano ( Brasil )
- Southern (3)
- Chácobo ( Bolívia )
- Pacahuara ( Bolívia )
- Shinabo ( Bolívia )
- Não classificado (1)
- Panobo ( Peru )

Ocidental (1)
- Cashibo-Cacataibo ( Peru )

Referências

Erikson, Philippe. Uma singularidade: a etno-história Pano. in: Cunha, Manuela C. (org.). História dos indios no Brasil. SP, Cia das Letras; SMC; Fapesp, 1992
 
Lewis, Paul M. (org.), 2009. Ethnologue: Languages ​​of the World, edição XVI. Dallas, Texas: SIL Internacional. Versão on-line: http://www.ethnologue.com/. Maio 2012

Luz, Pedro. O uso ameríndio do caapi. in: Labate, Beatriz C.; Araújo, Wladimir S. (orgs.) O uso ritual da ayahuasca. SP: Mercado das Letras / FAPESP, 2002

Suárez, Jorge A. Macro-Pano-Tacanan. International Journal of American Linguistics Volume 39, Número 3 Julho de 1973. https://www.journals.uchicago.edu/doi/10.1086/465258 Fevereiro, 2021
 
Wikipédia: Família Pano. http://pt.wikipedia.org/wiki/Familia_Pano Maio 2012

Nota: Excluídos do grupo pano (Norte) a etnia Kulina por haver controversas relações de sua filiação linguística. Sendo incluídos na família Arawá.

Vídeos selecionados (estatística YouTube, 11/05/2012):

Shipibo: 1710 resultados
shipibo, ayahuasca: 370 resultados
shipibo conibo: 592 resultados

Matis indians: 145 resultados (Matis: 9020)
Matsés indians: 21 resultados (Matsés: 109)

Yawanawá indians: 37 resultados (Yawanawá: 196)
Yawanawa ayahuasca: 15 resultados / Yawanawá ayahuasca: 15

Kaxinawá: 138 resultados
Kaxinawá, ayahuasca: 24
















Atenção especial para esse vídeo Já me Transformei em Imagem (2008).
Dirigido por Zezinho Yube também conhecido como José de Lima Kaxinaua, um Hunikui da Terra Indígena Praia do Carapanã, aldeia Mibayã, no rio Tarauacá. A edição foi de Ernesto Ignacio de Carvalho. Trata-se de comentários sobre a história de um povo, feito pelos realizadores dos filmes e por seus personagens a partir de fotografias e antigos docs. Sinaliza o tempo do contato (as correrias), passando pelo cativeiro nos seringais, até o trabalho atual com o vídeo, os depoimentos dão sentido ao processo de dispersão, perda e reencontro vividos pelos Huni kui, como se auto-denominam os Kashinawa.
Produção: Vídeo nas Aldeias




Etnias Panos segundo Erikson, 2009