sábado, 7 de agosto de 2021

Ayahuasca e a medicina Inca

 


Os médicos historiadores Lyons e Petrucelli [1997] descrevem as culturas pré-colombianas como sistemas de intrincadas misturas de religião, magia e empirismo semelhantes ao das sociedades arcaicas. A medicina Inca conhecida por suas sobrevivências e relatos de cronistas, reuniu pelo menos 1.400 espécies de vegetais (Pamo-Reyna), técnicas cirúrgicas e especializações médicas praticadas por os hampi-camayok e oquetlupcuc ou sirac (donos de medicamentos e cirurgiões) Thorwald, [1990]

O império socialista dos incas que se constituiu entre os finais do século XII e meados do século XV [Baudin] reúne uma série de conquista tecnológicas e de organização social que ainda não foram bem compreendidas nem avaliadas, graças a violência do processos colonial, nos limitamos portanto à análise de algumas de suas contribuições à medicina.

Os incas fizeram muitas descobertas farmacológicas. Usavam a "quina" (Cinchona L.) no tratamento da febre, posteriormente utilizada, com grande sucesso, contra a malária importada com a colonização [Franca et al. 2008]. As folhas da coca eram usadas de modo geral como analgésicos, e para diminuir a fome, embora os mensageiros Chasqui as usassem para obter energia extra. Outra terapia comum e eficiente era o banho de ferimentos com uma cocção de casca de pimenteiras ainda morna.

Entre as plantas utilizadas na medicina dos povos deste império está a ayahuasca, talvez sua mais importante contribuição, descrita na farmacopeia Callawaya como ayawasco (ayaasco, caapi, yague) referindo-se à Banisteria caapi [Poblete].

Atualmente se sabe que o nome ayahuasca pode designar tanto a liana Banisteriopsis spp. quanto a bebida produzida a partir da combinação da videira Banisteriopsis caapi com várias plantas, em particular a Psychotria viridis e a Diplopterys cabrerana, além um conjunto de outras plantas adicionáveis (admixture plants) em rituais ou condições "médicas" especiais.

Os métodos para preparo, portanto, diferem muito em relação à ocasião ou a cultura local. Segundo Strassman, [2010], e outros autores [Beyer ] [Lawler] a ayahuasca é uma das várias infusões ou decocções psicoativas preparada a partir de Banisteriopsis spp. As bebidas resultantes são farmacologicamente complexas e utilizadas com propósitos xamânicos, etnomédicos e religiosos. Etnobiólogos occidentais já registraram uma variedade de 200 a 300 plantas diferentes utilizadas no seu preparo. É uma questão aberta se a hoasca deve ser considerada como uma infusão medicinal xamânica, ou que deve ser considerada como uma medicina tradicional ao lado, por exemplo, à medicina ayurvédica, chinesa ou tibetana.

Entre as traduções para o vocábulo quechua Ayahuasca, estão "cipó do homem morto" (aya significando "espírito, morto ou ancestral" e huasca significa "vinha ou corda"), "liana das almas", "cipó dos espíritos", "cipó da pequena morte", "vinho da alma".

Essa bebida é também conhecida por dezenas de outros nomes como por exemplo: caapi, yagé (Tukano, Brasana); kapi (Guahibo); kahi (Yekuanas); kahi ide (Makunas); kamarampi (Ashaninka); nixi honi xuma (Amahuaca); mihi (Cubeo); nixi pae (Kaxinaua); nepê/nepi (Colorado); mahí (Cubeo); Ondi (Sharanawa); pildé (Emberá), natema (Jivaro), pindé/pinde (Kaiapa); dápa/dapa (Noanamá); uko (Zaparos) [Bolsanelo] [Luz] Os nomes além do significado literal referem-se a elementos de significação cultural, a exemplo de: “cipó da embriaguez”, “vômito”, “planta mestre", "planta professora", entre outros.

A ayahuasca (com este nome) era utilizada pelos incas (povos que adotaram o idioma quéchua) ou, melhor, pelo complexo histórico cultural denominado Inca (Império Inca). Segundo Darcy Ribeiro, [1977] apesar das diferenciações linguísticas e das variantes culturais e nacionais, o bloco inteiro deve ser encarado como uma só macro-etnia: a neo-incaica. Numa avaliação que fez em 1960, publicada no livro "As Américas e a civilização", encontrou-se uma população de 15,5 milhões de habitantes, na área montanhosa de 3 000 quilômetros de extensão que vai do Norte do Chile ao Sul da Colômbia, cobrindo os atuais territórios da Bolívia, Peru e Equador. Destes, 7,5 milhões são considerados indígenas, 3 milhões, brancos por auto definição e 5 milhões de mestiços.

Os primeiros relatos do uso indígena de ayahuasca, no Ocidente, são dos missionários jesuítas Pablo Maroni em 1737 e Franz Xaver Veigl em 1768, que descreveram um cipó (liana) conhecido como ayahuasca, "usado para adivinhação, mistificação e enfeitiçamento", enquanto estiveram no Rio Napo.[De Mori, 2011]

Na América do Sul ayahuasca é utilizada tradicionalmente em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil e ainda por pelo menos 72 diferentes tribos indígenas da Amazônia. [Luna] [Sachahambi], o que confirma sua importância. Há estimativas do início da sua utilização e dispersão entre as tribos ameríndias entre 1500 e 2000 a.C., estando, entre os principais estudos dessa datação, os realizados pelo etnógrafo equatoriano Plutarco Naranjo, que sumariou a pouca informação disponível sobre a pré-história da ayahuasca a partir de evidências arqueológicas abundantes em vasos de cerâmica, estatuetas antropomórficas e outros artefatos. [Naranjo, 1986] Outras estimativas datam o uso por populações indígenas de bebidas com estas plantas há aproximadamente cinco mil anos, [Furst; Narby] [Llamazares; Martínez] oito mil anos [Dobkin de Rios] ou pelo menos 3.500 anos. [McKenna ] [ Anwar]

Outra prática médica da civilização inca que ainda intrigam os pesquisadores está o procedimento cirúrgico conhecido como trepanação realizado com mais freqüência em homens adultos, (provavelmente para tratar os ferimentos sofridos durante o combate). Ainda hoje, procedimento similar é realizado para aliviar a pressão causada pelo acúmulo de fluidos após trauma craniano grave. Há evidências que as técnicas cirúrgicas foram padronizadas e aperfeiçoadas ao longo do tempo, face ao fato de que os crânios mais antigos não mostrarem nenhum sinal da consolidação óssea, após a operação, sugerindo que o procedimento foi provavelmente fatal.

Ao contrário dos encontrados mais recentemente, cujas taxas de sobrevivência se aproximaram de 90%, com níveis de infecção muito baixos, segundo os pesquisadores. [Norris] [Parr]

Poderíamos ainda listar diversas plantas com propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, psicoativas, além de rituais com resultados promissores na psiquiatria (psicoclínica) a exemplo dos identificados pelo Centro Takiwasi.  Tudo indica portanto que a neurociência tem origem diversa à descoberta ocidental hipocrática das funções do cérebro.

Referências

ANWAR, Yasmin; May 6, Media Relations|; 2019May 16; 2019 (6 de maio de 2019). «Ayahuasca fixings found in 1,000-year-old Andean sacred bundle». Berkeley News (em inglês). Consultado em 30 de maio de 2019

BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas. Santiago de Chile: Zig-Zag,  1953

BEYER, Stephan V. Singing to the Plants: A Guide to Mestizo Shamanism in the Upper Amazon. USA, University of New Mexico Press, 2009

BOLSANELO Débora. Em busca do Graal brasileiro: a doutrina do Santo Daime. RJ, Bertrand Brasil, 1995

DE MORI, Bernd Brabec. Beatriz Caiuby Labate,Henrik Jungaberle, ed. The Internationalization of Ayahuasca  LIT Verlag Münster, 2011

DOBKIN DE RIOS Marlene; RUMRRILL. Roger. A Hallucinogenic Tea, Laced with Controversy: Ayahuasca in the Amazon and the United States. Westport, CT: Praeger Hardback. 2008. Pp.162. ISBN 9780313345425 Literary review Acesso Nov. 2014

FRANCA, Tanos C. C.; SANTOS, Marta G. dos; FIGUEROA-VILLAR, José D.. Malária: aspectos históricos e quimioterapia. Quím. Nova, São Paulo , v. 31, n. 5, p. 1271-1278, 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422008000500060&lng=en&nrm=iso>. access on 10 Dec. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422008000500060.

FURST, 1976; NARBY, 1998 apud BEYER, 2009. BEYER, S. Singing to the plants: A guide to mestizo shamanism in the Upper Amazon . Albuquerque, NM: University of New Mexico. 2009 ver tb Blog Acesso Nov. 2014

LAWLER, Howard et al. A Working List of Confirmed Ayahuasca Admixture Plants in: Ayahuasca SpiritQuest El Tigre Journeys, 1997-2012 https://www.biopark.org/plant-dietas-spiritquest-sanctuary Fev. 2011 https://www.biopark.org/plant-dietas-spiritquest-sanctuary Agosto de 2021

LUNA apud LABATE, Beatriz C. A literatura brasileira sobre as religiões ayhuasqueiras. in: . in LABATE BEATRIZ C.;ARAUJO, WLADIMIR S. (org.) O uso ritual da ayahuasca. Campinas, SP, Mercado de Letras – FAPESP, 2002

LUZ, Pedro. O uso ameríndio do caapi. in LABATE Beatriz C.; ARAUJO, Wladimir S. (org.) O uso ritual da ayahuasca. Campinas, SP, Mercado de Letras – FAPESP, 2002

LYONS, Albert S; PETRUCELLI, Joseph. História da medicina.. SP, Manole, 1997

LLAMAZARES, A. M.; MARTÍNEZ Sarasola, C. (2004). Principales plantas sagradas de Sudamérica. In A. M. Llamazares & C. Martínez Sarasola (Eds.), El lenguaje de los dioses (pp. 259-285). Buenos Aires: Editorial Biblos. Retrieved April 12, 2012, from the Fundación desdeAmérica Web site, http://www.desdeamerica.org.ar/pdf/PrincipalesPlantasTexto_.pdf apud: HIGHPINE, Gayle Unraveling the Mystery of the Origin of Ayahuasca Ayahuasca.com Acesso Nov. 2014

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NORRIS, Scott. Inca Skull Surgeons Were "Highly Skilled," Study Finds. National Geographic News, May 12, 2008 Jan. 2011

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RIBEIRO, D. Estudos de antropologia da civilização: As Américas e a civilização, processo de formação e causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos. Petrópolis, RJ, Vozes, 1977

SACHAHAMBI  What indigenous groups traditionally use Ayahuasca?  ayahuasca.com http://www.ayahuasca.com/psyche/shamanism/what-indigenous-groups-traditionally-use-ayahuasca/ Acesso: 2021

STRASSMAN, Rick Pineal Gland DNA Activation and DMT JustGetThere.us Feb. 2010

TAKIWASI, Centro. Centro Takiwasi promove a investigação científica básica e psicoclínica https://takiwasi.com/po/investiga01.php Acesso, agosto de 2021

THORWALD, Jürgen. O segredos dos médicos antigos. SP, Melhoramentos, 1990

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Texto originalmente publicado e excluído da wikipedia pt no verbete Império inca
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Imp%C3%A9rio_Inca&oldid=47434386#cite_ref-19

excertos, como contribuições ao verbete Ayahuasca CostaPPPR https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ayahuasca&action=history

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Inca Skull

A trepanation was performed on this Inca skull and a gold plate was used as an implant that shows a clear bone reconstruction and osseointegration, that is, the patient survived.

With more than 500 years old, it is located in the Gold Museum of Peru and Arms of the World, Lima.

facebook: Arkeoloji ve sanat
https://www.facebook.com/arkeovesanat/photos/a.237131083627726/784079698932859/

https://br.123rf.com/photo_140787106_authentic-inca-mummies-with-indigenous-ornaments-skeleton-skulls-and-human-remains-found-archaeologi.html

https://www.reddit.com/r/interestingasfuck/comments/mz78ed/a_trepanation_was_performed_on_this_inca_skull/

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Texto originalmente publicado e excluído da wikipedia pt no verbete Império inca

https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Imp%C3%A9rio_Inca&oldid=47434386#cite_ref-19

e exertos de contribuições ao verbete Ayahuasca CostaPPPR https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ayahuasca&action=history