segunda-feira, 14 de maio de 2012

Aruak (aruáques) / Arawá


As línguas aruaques (também aruak ou arawak) formam uma família de línguas ameríndias da América do Sul e do Mar do Caribe.

As línguas aruaques são faladas em grande parte do território da América Latina, desde as montanhas centrais da Cordilheira dos Andes no Peru e na Bolívia, atravessando a Planície Amazônica, ao sul em direção ao Brasil Central e Paraguai e ao norte, em países da costa norte da América do Sul, como o Suriname, a Guiana e a Venezuela.

Para Rodrigues [1] essa língua também conhecida como Lokono, foi falada em algumas ilhas antilhanas como Trindad. Quando os europeus iniciaram sua colonização do Caribe, os Aruák dividiam e disputavam o mesmo espaço com os Karib. Assim como o Karib nome Aruák veio a ser usado para designar o conjunto de línguas encontradas no interior do continente e aparentadas à língua Aruák. Ainda segundo esse autor, esse conjunto de línguas foi também chamado de Maipure ou Nu-Aruák e corresponde ao que Martius (1794 — 1868) há mais de um século chamou de Guck ou Coco.

Segundo Urban na literatura recente o termo Maipure é utilizado para caracterizar um conjunto semelhante ao Jê (não ao Macro-Jé) ou a família Tupi-Guarani (não ao tronco Tupi). Para Urban as línguas Maipure são relativamente próximas, podendo-se estimar uma profundidade cronológica de uns 3 mil anos, ou seja ainda possuem elevados percentuais de cognatos entre os vocábulos nucleares.

A classificação proposta por Payne [3] divide esse grupo de línguas em cinco subdivisões: 1 setentrional (Ex: Achagua); 2 oriental (Ex: Palikur); 3 central (Ex: Waurá);4 meridional (Ex: Terena) e 5 ocidental (Ex: Amuesha). [ver mapa]

A classificação de Lewis [4] (Ethnologue) é a que se segue:

Arawakan (59)

->Não Classificadas (5)
Cumeral (Colombia) ; Omejes (Colombia) ; Ponares (Colombia); Tomedes (Colombia) ; Xiriâna (Brasil)

->Maipure (Maipuran) (54)

Maipure Central (6)

Enawené-Nawé (Brasil) ; Mehináku (Brasil) ; Parecís (Brasil) ; Saraveca (Bolivia) ; Waurá (Brasil) ; Yawalapití (Brasil) ;

Maipure Oriental (Eastern) (1)
Palikúr [plu] (Brasil)

Maipure Setentrional (Northern) (22)

- Caribbean (5)
Arawak (Suriname) ; Garifuna (Honduras) ; Paraujano (Venezuela) ; Taino (Bahamas); Wayuu (Colombia) ;
- Inland (13)
Achagua (Colombia); Baniva (Venezuela) ; Baniwa (Brasil) ; Baré (Venezuela) ; Cabiyarí (Colombia) ; Curripaco (Colombia) ; Guarequena (Venezuela) ; Mandahuaca (Venezuela); Piapoco (Colombia); Resígaro (Peru) ; Tariana (Brasil) ; Yavitero (Venezuela) ; Yucuna (Colômbia)
- Não classificada (1) Yabaâna (Brasil)
- Wapishanan (3)
Atorada (Guyana) ; Mapidian (Brasil) ; Wapishana (Guyana)

Maipure Sul (Southern) (22)
- Bolivia-Parana (5)
Baure (Bolivia) ; Guana (Brasil) ; Ignaciano (Bolivia) ; Terêna (Brasil) ; Trinitario (Bolivia)
- Pre-Andine (11)
Ajyíninka Apurucayali (Peru) ; Asháninka (Peru) ; Ashéninka Pajonal (Peru) ; Ashéninka Perené (Peru) ; Ashéninka, Pichis (Peru) ; Ashéninka, South Ucayali (Peru) ; Ashéninka, Ucayali-Yurúa (Peru) ; Caquinte (Peru) ; Machiguenga (Peru) ; Nanti (Peru) ; Nomatsiguenga (Peru)
- Purus (5) Apurinã (Brasil) ; Iñapari (Peru) ; Machinere (Brasil) ; Mashco Piro (Peru) ; Yine (Peru) ;
- Não classificadas (1)
Irántxe (Brasil) ; Western

Maipure ocidental (Western)(2) Chamicuro (Peru) ; Yanesha (Peru) ; Mawayana (Guyana)

Não existe consenso na literatura quanto a origem geográfica desse tronco (Maipure), entre as hipóteses estão uma distribuição ao longo de trecho principal do Amazonas, ou a partir do Vaupés centro ou norte do Peru, sendo concordantes quanto a sua distribuição que em relação aos Tupi, Jê e Karib no Brasil, os Maipure, apresentam uma distribuição a partir do noroeste (ocidental). [3]

Considerando a possibilidade de reconstrução histórica a partir das línguas nativas o referido autor Urban (1992) conjectura que o curso principal do Amazonas não foi a principal rota de dispersão Arawák. Ao contrário parece que os Maipure tenham migrado pela periferia da bacia amazônica, tanto pelo norte como pelo sul a partir da área peruana estabelecendo-se apenas mais tarde em regiões de terras baixas amazônicas há mais de 3 mil anos ou mais.

Ainda segundo Urban observe-se que o termo Arawak refer-se a um grupo geneticamente mais abrangente, sobre, com menos certezas das relações de proximidade entre idiomas integrantes. As outras famílias são as integrantes no grupo Aruan da região do sudoesta amazônico (Kulina, Paumari, Yamandi e Deni). Rodrigues observe que esse último grupo Arawá (Arauan segundo Ethnologue) além de estreitamente aparentadas entre si ocupam uma área geográfica bem definida entre os rios Purús e Juruá

Segundo Lewis [4] (Ethnologue) inclui-se

Arauan (Arawá) (5)
Dení (Brasil)
Jamamadí (Brasil)
Kulina (Brasil)
Paumarí (Brasil)
Suruahá (Brasil)

Entre os povos indígenas desse grupo linguístico que utilizam a ayahuasca destacam-se os Baníuas (baniba, baniva) um grupo indígena que habita o Noroeste do estado brasileiro do Amazonas e regiões próximas na Colômbia e Venezuela; Os campas (kampa) ou Ashaninka; Os guahibo (sikuani, guajibo, jivi, jiwi) da região do Orinoco, Venezuela; os Machiguenga (Matsigenka, Matsigenga) do Peru, Brasil e Bolívia; os Mashco-Piro (Piro, Mascho Piro) do Peru e Tarianas do Noroeste do estado brasileiro do Amazonas, e Colômbia.

Referências

1 Rodrigues, Aryon Dall'Igna. Línguas brasileiras. Para o conhecimento das línguas indígenas. SP, Loyola, 1986

2 Urban, Greg. A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas. in: Cunha, Manuela Carneiro (org.) História dos índios no Brasil. SP, Companhia das Letras - Secretaria Municipal de Cultura/ FAPESP, 1992

3 Payne, David L. A classification of Maipuran (Arawakian) languages based on shared lexical retentions. in Derby-shire, D.C.; Pullun, G.K. (orgs) Handbook of Amazonian languages, 1991. pp. 355-499

4 Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com/.
-http://www.ethnologue.com/show_family.asp?subid=421-16
Mapa: Wikipédia Línguas aruaques http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_aruaques

Alguns vídeos de povos do grupo Aruak: Ashaninka (Campa) (647 vídeos); Machigenguas (39 vídeos); Piro ; Tariana (Tarianos); Kulinas (Arawá)































quarta-feira, 9 de maio de 2012

Panos (panoan)

[Wikipédia]
A família Pano (Panoan) é uma família linguística cujas línguas são faladas por povos indígenas no Brasil, no Peru e na Bolívia segundo Lewis (2009) com 28 grupos. A etnia que da nome ao grupo linguístico está extinta e segundo Erikson (1999) essa família etnolinguística, que conta hoje com cerca de 30 mil falantes, conseguiu preservar tanto sua língua como a maior parte de suas tradições apesar dos vários séculos de contato e é notável a sua grande homogeneidade territorial e linguística.

Luz (2002) nos apresenta referências sobre a utilização da ayahuasca por três etnias desse grupo linguístico, a saber: (1) os Kaxinawá que denominam a bebida feita do Banisteriopsis caapi por nixi pae (cipó da embriaguez), e também se referem a ela, o cipó e a bebida, como dunuan isun e huni, termos respectivamente traduzíveis por "urina de sucuri" e "gente". (2) os Yaminawá que denominam a bebida que tem como base a B. caapi como shori, segundo suas crenças habitado por uma entidade, o shori iwo ("mestre do shori") e os (3) Sharanawa que tanto utilizam B. caapi (ondi), como um cacto (chai) da família Opuntia sp. utilizado como aditivo e às vezes sozinho.   

Ainda segundo a referências de Luz (o.c.) os kaxinawá sob efeito do nixi pae, um estado de consciência (damí) que possui relação direta com os sonhos,  é possível perceber a realidade do yuxin (espírito) que habita as plantas e animais que como nós são huni kuin (gente nossa). É também através das visões do nixi pae que o indivíduo toma consciência da existência post mortem, além do corpo conhecendo seu bedu yuxin (o espírito que vê) no caminho de habitar a "aldeia celeste".  Os yaminawá utilizam o shori para através do domínio do weroyoshi (espírito / essência vital) para "sair" do corpo (yora) de melhor forma como acontece nos sonhos. Inclusive podendo curar e tendo acesso, com o uso do shori à "terra dos mortos" (bai iri) onde se "vê tudo" e existe em eterno êxtase (efeito do shori). Os sharanawa também associam as visões do ondi aos sonhos (nos rituais de cura são relevantes a análise do sonho dos "pacientes")

Outros grupos linguísticos Pano precisam ainda ser pesquisados inclusive quanto as origens e relações etno-históricas da formação PanoTacanan (Tacapano) com especial atenção as relações deste como o tronco Macro-Quechua se quisermos  ter uma melhor compreensão de origens do uso da ayahuasca que no idioma quechua, como se sabe, é o "cipó do homem morto" ou "liana das almas".

Divisão dos grupos linguísticos pano segundo Lewis:

Oriental(1)
- Kaxarari ( Brasil )

Norte-Central (6)
- Capanahua ( Peru )
- Isconahua ( Peru )
- Marubo ( Brasil )
- Remo ( Peru )
- Sensi ( Peru )
- Shipibo-Conibo ( Peru )

Norte (5)
- Korubo ( Brasil )
- Matis ( Brasil )
- Matsés ( Peru )
- Pisabo [ porco ] ( Peru )

Centro-Sul (9)
- Amahuaca (1)
     Amahuaca ( Peru )
- Não classificado (1)
     Nukuini ( Brasil )
- Yaminahua-Sharanahua (6)
     Poyanáwa ( Brasil )
     Sharanahua ( Peru )
     Tuxináwa ( Brasil )
     Xipináwa ( Brasil )
     Yaminahua ( Peru )
     Yawanawa ( Brasil )
- Yora (1)
     Yora ( Peru )

Sudeste (2)
- Kashinawa ( Peru; Acre - Br )
- Katukina, Pano ( Brasil )
- Southern (3)
- Chácobo ( Bolívia )
- Pacahuara ( Bolívia )
- Shinabo ( Bolívia )
- Não classificado (1)
- Panobo ( Peru )

Ocidental (1)
- Cashibo-Cacataibo ( Peru )

Referências

Erikson, Philippe. Uma singularidade: a etno-história Pano. in: Cunha, Manuela C. (org.). História dos indios no Brasil. SP, Cia das Letras; SMC; Fapesp, 1992
 
Lewis, Paul M. (org.), 2009. Ethnologue: Languages ​​of the World, edição XVI. Dallas, Texas: SIL Internacional. Versão on-line: http://www.ethnologue.com/. Maio 2012

Luz, Pedro. O uso ameríndio do caapi. in: Labate, Beatriz C.; Araújo, Wladimir S. (orgs.) O uso ritual da ayahuasca. SP: Mercado das Letras / FAPESP, 2002

Suárez, Jorge A. Macro-Pano-Tacanan. International Journal of American Linguistics Volume 39, Número 3 Julho de 1973. https://www.journals.uchicago.edu/doi/10.1086/465258 Fevereiro, 2021
 
Wikipédia: Família Pano. http://pt.wikipedia.org/wiki/Familia_Pano Maio 2012

Nota: Excluídos do grupo pano (Norte) a etnia Kulina por haver controversas relações de sua filiação linguística. Sendo incluídos na família Arawá.

Vídeos selecionados (estatística YouTube, 11/05/2012):

Shipibo: 1710 resultados
shipibo, ayahuasca: 370 resultados
shipibo conibo: 592 resultados

Matis indians: 145 resultados (Matis: 9020)
Matsés indians: 21 resultados (Matsés: 109)

Yawanawá indians: 37 resultados (Yawanawá: 196)
Yawanawa ayahuasca: 15 resultados / Yawanawá ayahuasca: 15

Kaxinawá: 138 resultados
Kaxinawá, ayahuasca: 24
















Atenção especial para esse vídeo Já me Transformei em Imagem (2008).
Dirigido por Zezinho Yube também conhecido como José de Lima Kaxinaua, um Hunikui da Terra Indígena Praia do Carapanã, aldeia Mibayã, no rio Tarauacá. A edição foi de Ernesto Ignacio de Carvalho. Trata-se de comentários sobre a história de um povo, feito pelos realizadores dos filmes e por seus personagens a partir de fotografias e antigos docs. Sinaliza o tempo do contato (as correrias), passando pelo cativeiro nos seringais, até o trabalho atual com o vídeo, os depoimentos dão sentido ao processo de dispersão, perda e reencontro vividos pelos Huni kui, como se auto-denominam os Kashinawa.
Produção: Vídeo nas Aldeias




Etnias Panos segundo Erikson, 2009